
Hou é como o Griffith da imagem-tempo. Não por ser pioneiro, mas sim pela simplicidade na forma digna de um primórdio. Porém, com uma complexidade digna de uma arte com mais de 100 anos e muitas metamorfoses estéticas na bagagem.
Se Griffith vai se preocupar com o movimento e sua continuidade, Hou vai se preocupar com o tempo e sua continuidade. Planos abertos, geralmente da esquerda para a direita, buscando uma conexão transparente entre estes. A movimentação dos corpos, diferentemente de Griffith, é indireta e perambulante. Luzes da cidade, reflexos, árvores balançando e ventiladores se movimentam mais que os corpos. O tempo é primordial a ação.
Voltando mais ainda, se os Lumières capturaram a chegada do trem a estação, Hou vai capturar o trem chegando a estação. A ação é subordinada, Hou quer o tempo; o gerúndio.
Desestruturar a mise-en-scène é ao mesmo tempo negar o conceito clássico (no caso, ir rumo ao fluxo) e reencontrar os primórdios. Longe de ser um cinema conservador, mas sim um cinema que busca uma atualização da essência
O trem dos irmãos Lumière agora trafega em múltiplas linhas, junto a outros trens, um passando por cima do outro, permitindo que mais pessoas embarquem e desfrutem do cinema que pode ser visto em cada janela, em cada moldura, em cada reflexo de luz projetado na parede. A imagem-tempo em todo lugar.
por Gabriel Linhares Falcão