
High Life nos faz perceber que Solaris e L’inturs têm muito em comum. Em Solaris, a memória se materializa naturalmente no espaço, já em L’intrus, realidade e memória (acompanhada de seus traumas e desejos) ocupam o mesmo espaço, ou melhor, a mesma ausência de espaço, os dois se encontram na fragmentação deste.
O plot de High Life é o terreno perfeito para Denis fazer o que sempre fez com maestria: materializar a solidão, a loucura, a saudade, o carnal, o amor… Porém o filme parece um pouco preso demais a sua narrativa, não arrisca tanto quanto em outros de seus trabalhos e acaba caindo muitas vezes no explícito, por estar menos atento a gestos e energias que a lógica narrativa. Até a narração parece dar um sentido lírico ao que Denis usualmente capturaria sem uma palavra. Dentro do próprio filme da para notar essa diferença, o início (até os 30/40 minutos iniciais) e o fim (a última meia hora) conseguem essa captura perfeitamente, enquanto o meio parece sofrer com a dependência do voz-over e do explícito em excesso.
Memória em High Life não corresponderá apenas ao subjetivo, mas também ao coletivo, a uma memória em rede, resultado de dispositivos como TV, internet, vídeo, câmeras de segurança e outros suportes audiovisuais da Terra que não se afirmam como arquivo ou ao vivo.
Em High Life, realidade e memória são antigravitacionais, mas os corpos pesam muito.
Obs: A cena de Binoche na cadeira parece ter sido filmada por Grandrieux.
por Gabriel Linhares Falcão