
Carpenter sempre cria prisões em seus filmes elaborando situações sem saídas. Em Starman, a prisão constantemente se flexibiliza. Começa pelo aprisionamento da protagonista as suas memórias, vai para o “kidnapping” locomotivo e depois ao aprisionamento social do Starman. Em seguida ele se mostra transcendentemente elevado, materialmente desprendido e, consequentemente, impossível de ser aprisionado por qualquer imposição social, mesmo sendo culturalmente receptível e intelectualmente flexível. Esta condição sobre-humana revela o aprisionamento sociocultural inconsciente vivido por Jenny, que a partir de agora buscará essa elevação. Starman se depara com o que é humano e transcendental, o amor. Este, o desestabiliza, revelando uma possível vulnerabilidade que é intensificada pela perseguição do governo em estado de combate (o mais vulnerável dos elementos).
A prisão de Carpenter precisa se remodelar constantemente para acompanhar o fluxo do roadmovie e isso demanda uma flexibilização de gêneros. Starman representa o espaço de maneira muito clássica, revelando a beleza do que é filmado por meio da transparência figural sem alterar diretamente o material, entretanto representa o espaço extraterrestre de maneira muito romântica, idealizando o plano invisível descrito pelo Starman e criando elementos figuralmente opacos e distorcidos por meio de chroma key. Uma harmonia representacional que revela aos poucos o esotérico sem torná-lo completamente exotérico.
por Gabriel Linhares Falcão