
Os Lovebirds estão sempre a sorrir. Quando soltos, o sorriso parece fraternal, e quando presos, irônico.
The Birds não abre espaço para a comédia. O casal se conhece de maneira despojada e espontânea e seu reencontro se desenrola de maneira muito criativa e não usual. Por mais que haja uma estrutura cômica (que lembra até um pouco os filmes de Hawks), o filme se restringe a não provocar o riso. O único momento devoto a piada é quando a inércia no carro é aplicada aos pássaros mas não a gaiola, alterando a materialidade do que é filmado e criando uma harmonia entre o movimento dos pássaros engaiolados. A comédia não pertence ao homem em The Birds, mas sim aos pássaros. Para nós, o filme é uma tragédia. Apenas compreendemos o humor alado quando os corpos dos pássaros se encontram em condições semelhantes às nossas.
Corvos vão gradativamente engaiolando humanos em suas casas enquanto os Lovebirds estão a sorrir (principalmente no clímax ao final). A ordem é invertida e humanos são obrigados a se achatarem, se abraçarem e por fim se reconciliarem encontrando o amor como uma demanda da sobrevivência; retornando ao estado animal para recuperar a razão. Um abraço final de liberdade não é irônico, é fraternal, mas muito melancólico. Assim como todos os Lovebirds, que nunca quiseram estar em posição de ironia.
por Gabriel Linhares Falcão