
O mundo material de Oliveira é a melhor versão possível deste.
O mundo imaterial também.
Mesmo assim Isaac está com um problema.
Oliveira cuidadosamente não identifica este problema. Provavelmente, nem ele, com mais de 100 anos, sabe o que é isso que sensibiliza a existência; que torna-a insegura. Mas, com um centenário nas costas, o senhor já olhava para isso com humor.
O amor, a arte, o desejo, o sonho, seriam respostas simplistas para este “problema” – agora já entre aspas após a experiência de vida ganha em alguns instantes desde o primeiro parágrafo até este. Imagina Manoel, com 101.
O que garantia a Isaac que a vida após a morte seria eterna, se a eternidade material em suas mãos, as fotografias, eram duvidosas? O sorriso de Angélica é divino, mas também muito palpável, principalmente por arrancar sorrisos de nossos rostos.
Se a vida agora é a melhor versão e a vida depois da morte também, qual a diferença? Se os mortos podem vir a terra e nós temos a memória palpável dos mortos, qual a diferença? Qual a dúvida? Vemos comicamente Isaac vivendo a dúvida entre coisas tão simples. Mas no fundo, eu também tenho essa dúvida. Manoel também tinha essa dúvida, mas para ele essa “dúvida” era uma beleza.
Para mim, agora, após ver o filme, essa dúvida também é uma beleza. Mas só até eu me apaixonar mais tarde por uma fotografia.
por Gabriel Linhares Falcão