
Uma revelação demarca a metade do filme e um ponto de transição que aflora os pathos de todos os personagens.
A primeira parte é marcada pelo incômodo de uma incongruência. Os dois grupos (os jovens muçulmanos e a família francesa de Deneuve) não conseguem habitar o espaço. Não o mesmo espaço, pois isso acontece desde o início do filme, mas o espaço por si só entra como um terceiro elemento incongruente. As flores, campos e cavalos não estão em harmonia com os grupos, ou melhor, os grupos não estão em harmonia com o espaço. Não vemos além da objetividade das convicções de cada um.
Na segunda parte, as convicções são as mesmas porém os pathos de cada personagem são mostrados com mais clareza, o que necessariamente intervém no pathos e no espaço do outro. A avó atrapalha o neto e vice-versa, a avó atrapalha a companheira do neto e vice-versa e por aí vai. Essa invasão ao outro é muito mais uma conexão, que vai aos poucos conectando todos como um grupo só, apesar de suas diferenças. A desestabilização das relações revela uma harmonia e consequentemente uma beleza provinda das paixões, dando sentido ao espaço que sempre esteve ali apaixonado por todos.
Um eclipse narrativo que joga luz nos personagens de maneira respeitosa às diferentes convicções e ousada na forma que os pathos se invadem.
por Gabriel Linhares Falcão