
“… o projetor aparece como instrumento criativo, e a exibição do filme se torna uma performance, a película cinematográfica (ou o teipi) funcionando como fonte de materiais para o intérprete que projeta.”
Stan Brakhage
O digital sempre teve dificuldade em capturar o estado de pré-consciência preconizado por Brakhage. Não há possibilidade de confronto direto do artista com o real por meio de sua câmera, pois tudo no digital é previsto por sempre poder ser pós-visto. É inevitável a separação do joio e do trigo.
O que Romero faz é criar pelo digital um próprio estado de consciência por imagens de arquivo manipuladas que se transformará em real pela projeção e, por fim, capturado por ele mesmo, o artista, com sua câmera. Cria um ambiente a ser explorado como realidade virtual, para, no confronto com esta, buscar uma nova pré-consciência.
O que é projetado busca sempre fugir de uma consciência da edição por meio de longas sequências que permitem os experimentos digitais acontecerem por si só, deixando borrões e aberrações cromáticas se manifestarem espontaneamente (estes que são potencializado pela captura final).
Em uma conversa com o Vinícius, ele me disse que a “projeção” é uma tela de celular. Esta por vezes parece uma grande projeção em uma parede. A dimensão real é diluída na escuridão ao redor da tela. Com certeza, um filme que entraria neste texto.
Possivelmente o primeiro filme consciente de uma geração que teve que assistir Brakhage em HDCam de VHSRip.
por Gabriel Linhares Falcão
One thought on “A densa nuve, o seio (2020) de Vinícius Romero”