Precisamos de mais filmes assim, menos conforto e mais confronto. O cineasta precisa se jogar no mundo; descobrir, se descobrir e descobrir o próprio filme ao longo do processo. De fato experimentar.
Se subordinar ao mundo, o que não significa que não possa rabiscar, rodar, rever, iluminar, brincar, cortar… Tudo é possível quando a câmera se funde ao corpo; toda escolha de torna natural.
É preciso bater de frente com o místico do mundo e nunca desvendar seus enigmas; encontrar diversas evidências e traçar naturalmente um esoterismo que é oculto não só ao espectador, mas também ao cineasta que se jogou.
O que sabemos?
Um ciclo solar e quatro estações.
O que o cineasta, Jorge, sabe?
Um ciclo solar e quatro estações.
O íntimo aflora. Imerso nos fragmentos da natureza que revelam as estações. Plantas sempre nuas não escondem o calor, a frieza, a secura e umidade de cada ciclo trimestral. As pessoas próximas a Jorge, desnudadas pela câmera, revelam a natureza do ser e interagem com as estações. Faces e gestos majoritariamente tímidos, intimidados pelo registro, mas sempre aptos a refazer um movimento em prol do filme, em prol de Jorge. A intimidade das relações não está só na liberdade e no conforto, mas também em assumir e confrontar restrições e bloqueios em prol do outro. Não só as relações mas toda a natureza é assim e essa se torna a natureza do filme. Um constante processo de redescobrimento da forma por meio das adaptações do íntimo. Confrontar até encontrar o conforto.
por Gabriel Linhares Falcão