
“A planificação […] é o elemento principal da encenação. É por isso que não gosto do termo realizador, porque, ao meu ver, o cinema não é isso, não é a realização. A realização é aquilo que faz a equipa. Mas o nervo da encenação é a planificação. O que é filmar? É saber onde pôr a câmera e saber quanto tempo ela ali ficará. A planificação, para mim, é o mistério.”
Éric Rohmer, “Entrevista com E. Burdeau e J.-M. Frodon”, Cahiers du Cinéma, nº 588, Março de 2004
Dan Sallitt, herdeiro assumido de Rohmer, opera com o “nervo fora do lugar”. Escolhas dramáticas tortas na planificação que fogem de formalismos batidos e encontra escolhas de câmera difíceis de decifrar mas que nunca perdem a transparência.
A entonação dos atores também é muito singular. O naturalismo pelo discurso indireto excessivo parece prioridade diante das escolhas de câmera. Há uma espécie de descontrole dos atores tagarelas; um descontrole do texto. Resta a câmera mais observar que dramatizar.
A dramatização fica muito mais para a montagem. Nesta, Dan Sallit prioriza um distanciamento do espectador e a constante afirmação brechtiniana de que Fourteen é um filme, contradizendo o naturalismo dos diálogos e atores. A câmera inclusive para em alguns momentos para contemplar o nada durante longos minutos trazendo o espectador de volta a consciência de sua posição diante de uma tela.
Dentro dessa constante dialética entre controle e descontrole, Brecht e transparência, Fourteen é uma obra rígida e confortável, que remete a Rohmer e Pialat de maneira muito própria.
por Gabriel Linhares Falcão